27 de agosto de 2014

Xico Sá: "Não podemos criminalizar a delicadeza nos relacionamentos"

Foto: Reprodução Revista Tpm

Xico. Ah, Xico! Demorei para te entender, e por isso também para te publicar. Nunca li seus livros, mas sempre acompanhei sua coluna e seus devaneios sobre amor, relacionamentos, homens e mulheres. A gente quase sempre concordava e por vezes eu até suspirei ao pensar: Ah, se todos pensassem como o Xico... Mas eu já não suspiro mais por você. Admito

que nossos quinze minutos de conversa podem ter sido pouco para tal desencantamento. Mas eu tenho certeza que a culpa não é minha e nem sua. É do tal amor romântico que me fez idealizar você. Não que isso seja de todo ruim, afinal, por trás de todo escritor apaixonante tem um homem comum. Apesar de te achar um homem comum controverso, eu gostei da sua sinceridade. Mas você sabe como são as mulheres como eu né? Sua sinceridade me gerou certo desconforto e alguns trechos dessa entrevista cortados sem dó. Mas ó, eu ainda topo tomar aquele shop no seu boteco preferido do Rio tá? E não precisa pagar a conta.


Hoje já temos novas configurações do “papel da mulher” nos relacionamentos, como por exemplo, a existência da "mulher alfa". Você acha que o homem tem medo dessa mulher independente?

Acho que nós temos medo de vocês em qualquer hora (risos). É um pequeno desencontro, mas não é tão trágico. Acho que conversando a gente se ajeita. Temos que tentar construir um diálogo, seja num encontro de 15 minutos ou no encontro para a vida inteira. Acho que isso é um desajuste de época mesmo, em vários períodos houve isso. A evolução da mulher foi lenta em relação à dos homens, como por exemplo, a conquista do direito ao voto. Então, agora que as coisas estão correndo mais rápido, a gente tenta entender.


Como você enxerga a influência das redes sociais nos relacionamentos?

Facilita o encontro, o sexo casual ou um encontro que pode até dar em amor. Mas no dia a dia só atrapalha, pois só radicaliza o ciúmes. Criam-se novas paranoias e as redes sociais se transformam no novo inferno dos casais. Mas também acho ridículo os casais que se proíbem a usar, é uma brincadeira da nossa época. Basta ser adulto, maduro e usar com certa moderação.


Você acha que apesar da casualidade das relações, ainda somos guiados pelo amor romântico?

Claro, acho que sim. 


E você acha isso positivo?

Acho. Imagina se esquecermos isso? O amor romântico é bom para nos guiar. É claro que ele pode ser cruel em momentos que a pessoa só preenche sua vida com aquela relação e fica escrava do amor. Mas eu prefiro que ainda tenha certos ideais, que nos reste uma última cota de delicadeza. 


Quais conflitos você percebe na relação da busca das mulheres pela liberdade nas relações?

Eu acho que tem muitos conflitos no mundo feminino, como por exemplo, a mulher que quer ser extremamente moderna, e não sabe se deve permitir ou questionar o cavalheirismo. Mas não acho que isso seja um problema, eu só não gosto de radicalismos. Acho que homens e mulheres gostam de delicadezas, acho que não podemos criminalizar a delicadeza nos relacionamentos.

Arquivo Desvio Livre 


Os homens têm medo de mulher feminista?

Tem no geral de mulheres avançadas, em todos os sentidos. Acho que o papel do feminismo é jogar pesado. Acho que tem que jogar pesado, porque só os discursos que jogam pesado é que vingam. Se eu fosse uma mulher feminista eu não ia alisar, ia botar pra quebrar para vingar meu discurso e conseguir meu espaço político no mundo. Mas como homem, às vezes eu acho exagerado. 


Então qual o seu "ideal" de mulher ?

Eu sou apegado às minhas experiências. Fui casado cinco vezes e cada vez foi completamente diferente, com mulheres diferentes e que eu gostei pelas diferenças. Não existe modelo, acho que é bem mais misterioso do que imaginamos. São coisas que vamos descobrindo na convivência. Até o que os homens comentam como sendo ruim, depois percebemos que é bom. “Ah, ela pega muito no meu pé”. Pega o caralho, ela te cuida. Ela te quer bem e você não percebe. Não tem modelo de nada. Nem de jeito, nem de gostosura. Você pode ganhar uma pessoa por coisas que não são nem um pouco óbvias.




Xico Sá é jornalista e autor dos livros:

O Livro das Mulheres Extraordinárias - ed. Três Estrelas/ Publifolha
Chabadabadá, Editora Record
Modos de macho & Modinhas de Fêmea - Editora Record
Divina Comédia da Fama - Editora Objetiva
Nova Geografia da Fome - Editora Tempo d'Imagem
Paixão Roxa - Editora Pirata
Catecismo de Devoções, Intimidades & Pornografias - Editora do Bispo
Se um Cão Vadio aos Pés de uma Mulher-abismo - Editora Fina Flor
Caballeros Solitários Rumo ao Sol Poente - Editora do Bispo
La Mujer És un Gluebo da Muerte - Editora Yiyi Jambo, Paraguay
Tripa de Cadela & Outras Fábulas Bêbadas (contos) - Editora Dulcinéia Catadora

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