Sabe aquela dinâmica famosa em que mostram uma boneca preta e outra branca para crianças analisarem? Então,
nesta dinâmica a criança deve dizer qual é a mais bonita, a mais feia, a que é
boa, a que é ruim e qual mais se parece com ela. A dinâmica das bonecas acontece todos os dias com milhares de pessoas. Pessoas negras e brancas
são colocadas todos os dias em uma vitrine. Lá elas são julgadas e adjetivadas (muitas vezes pejorativamente) por suas características físicas.
Nesses julgamentos sempre ocorre a questão
da ausência ou presença da “beleza”, ou seja, define-se o feio e o bonito. Se há alguém que foge dos padrões e estereótipos estabelecidos pelas revistas, programas de
TV, internet, filmes, novelas e etc, e faz escolhas para fugir de padrões, esse alguém não é compreendido ou considerada bonito, mesmo que sua aparência esteja em grande evidência na mídia.
Há
ainda um outro julgamento, aquele que tem um embasamento sob a condição social
do sujeito. Ou seja, se a pessoa for dos grupos marginalizados seu
estereótipo passa a ser alvo de críticas e disseminações de preconceitos e de
racismo. A beleza está presente ali, mas
é ignorada. Aquela beleza é vista como uma audácia, um comportamento desviante.
Eu sou "só" preta e mulher, se também fosse "sapatão" seria bem pior, pois ter qualquer orientação sexual que não seja héterosexual é desviar ainda mais dos padrões socialmente aceitos. O problema é que o tal "só" já me enquadra, e enquadra outras milhares de mulheres à vulnerabilidade de ser chacoteada. Chacota com uma dose de preconceito e racismo, é crime. Chacota com uma dose de ditadura da beleza, é cruel. Chacota, com outras boas doses de quaisquer preconceitos pautados sobre o que é ser belo, pode MATAR lentamente. E mata. A morte da "beleza". A morte pela "beleza".
Com os cabelos alisados - Arquivo pessoal |
Todas as mulheres pretas são escravas da ditadura
da beleza que impõe que elas devem permanecer em seu lugares. Lugares subalternos aos das brancas. Existe moda que é para
branca e moda que é para preta.
Eu, enquanto mulher preta, renego este lugar. Renego qualquer tipo de violação do meu bem estar próprio. Renego a violação do meu corpo negro. Renego as ditaduras da beleza. Renego você que acha que o meu lugar não me permite mudar minha aparência, simplesmente por eu ser negra. Você vai dizer que não é porque eu sou negra, mas querido, eu sei que é.
Enfim, apenas renego qualquer tipo de violação
corporal desde o estupro até as chacotinhas racistas sobre o meu corpo e o corpo da outra. Renego você que não sabe (ou finge que não sabe) que a beleza também é negra.
Eu, enquanto mulher preta, renego este lugar. Renego qualquer tipo de violação do meu bem estar próprio. Renego a violação do meu corpo negro. Renego as ditaduras da beleza. Renego você que acha que o meu lugar não me permite mudar minha aparência, simplesmente por eu ser negra. Você vai dizer que não é porque eu sou negra, mas querido, eu sei que é.
Depois da transgressão para os crespos - Arquivo pessoal |
Eu de undercut. Por que não? |
Sou Ana Carolina Rodrigues, tenho 23 anos e sou estudante de Letras. Eu acreditava que racismo não existia. Comecei a mudar de idéia quando parei de alisar os cabelos. Percebi que alisar os cabelos me possibilitava certa mobilidade, pois eu renegava o que "era feio" e tentava encaixar-me no padrão socialmente estabelecido. Não alisar o cabelo é bom demais e me fez perceber que o racismo existe sim, da forma mais cruel possível, e que meu cabelo crespo é um instrumento de luta e de afirmação.
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que maravilhosa!
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