31 de janeiro de 2015

Mulher de verdade



Esse texto começa com uma dica aos homens que querem me fazer virar os olhinhos de um jeito bem rápido. Coloque na mesma frase e em sequência as palavras: mulher de verdade. Meu amigo, eu lhe garanto que qualquer coisa que você disser depois disso vai lhe render um olhar bem expressivo dessa pessoa que vos escreve. Mas eu explico. Não tenha preguiça, vamos começar essa conversa do começo.



Entramos em 2015 e graças à luta de muitas mulheres através do Movimento Feminista (movimento social, político, filosófico e organizado) hoje podemos gozar de maior liberdade em algumas esferas sociais. Temos mulheres presidentas e elas são as “netas” das que lutaram pelo direito ao voto. Temos mulheres representando o empoderamento feminino nas artes, no esporte, na política, na literatura, nas ruas e dentro de suas casas chefiando famílias e escolhendo como ter e formar ou não suas famílias. 




Inicio dizendo isso porque me soa até um pouco ridículo ter que falar do que vou falar considerando todas essas conquistas e também toda a situação de violência e opressão que ainda vivemos. Mesmo com tantas batalhas e avanços, ainda é imensurável o quanto estamos longe de alcançar a equidade total entre homens e mulheres. 

Mas vamos lá que hoje o assunto é papo de mesa de bar. Em 2015 e com tantas transformações, ainda é comum ouvir por aí a expressão “mulher de verdade”. Sempre que escuto a vontade é de entrar num questionamento sem fim a quem fala. O que é uma mulher de verdade? E uma mulher de mentira? E o que é uma mulher? O que você sabe sobre ser ou não mulher? Em que ponto da sua vida você começou a colocar as mulheres em caixas separadas “de verdade” e “de mentira”? Em que período da história está escrito que nós mulheres lutamos para que nos encaixem em categorias? Onde foi que eu assinei um conjunto de normas que me define como “de verdade” ou “de mentira”? E por aí vai... Essa coisa de querer nos definir e determinar o que é ser “de verdade” só mostra o quão atrasados ainda estamos. Atrasados a ponto de homens de 20 anos ainda repetirem conceitos e machismos de homens de 80.

Querem privar nossa liberdade e deslegitimar nossas escolhas toda vez que dizem “Mulher de verdade não faz isso ou aquilo ou isso e aquilo juntos”. Mulher de verdade é a que se valoriza, se respeita né? Nisso eu concordo. Também acho que mulher deve se valorizar e se respeitar. Respeitar as próprias vontades, os próprios sonhos e desejos independente do que os outros pensam. 

Não importa se ela veste burca ou shortinho. Se ela tem mais livros ou sapatos. Se ela é virgem, faz sexo com quem quer e quando quer se ou está no quinto casamento. Não importa se ela não quis se casar. Se ela ama outra mulher e não um homem. Se ela tem mestrado, doutorado e é baladeira. Se ela sobe o morro todos os dias depois de cuidar dos filhos dos outros, para cuidar dos dela.  






Sua mãe é mulher de verdade. Sua vizinha, sua ex, a freira do colégio onde seu priminho estuda, a presidente Dilma, eu, a "panicat" da Tv, sua avó, a puta daquela esquina e todas as outras. Todas são mulheres de verdade, pois toda mulher é humana. É carne, osso, coração, razão, afeto, escolha e direitos. Toda mulher é uma vida e merece respeito.  E respeito, meu amigo, nós não precisamos conquistar, ele é nosso por direito. 





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