1 de abril de 2015

"Se quero aprender serviços domésticos é porque quero ser autossuficiente e não o suficiente para alguém"



Meu nome é Gabriely, tenho 16 anos e não faço parte de nenhum movimento feminista organizado, mas acredito e  defendo que só viveremos em paz quanto houver igualdade de tratamento entre gêneros e em todos aspectos sociais. Eu vejo que a sociedade que vivo é machista, e que seus valores morais sofrem forte influência de valores religiosos. Hoje vou escrever um pouco sobre minha relação com isso tudo.

Eu me resolvo sozinha. Se precisar ir para o outro lado da cidade de ônibus eu vou, mesmo se for para me perder, pedir informações, “pagar mico” e etc. Por mais natural que isso possa parecer, algumas famílias hipocritamente “conservadoras” como a minha (em partes, ao menos) estranham quando meninas são independentes. Já ouvi que menina que anda sozinha na rua fica “mal vista”. Sem contar os diversos sermões que escuto sobre como me portar na rua e tomar “cuidados e etc”. Outra coisa que me irrita é quando dizem que tenho que melhorar minhas habilidades para servir outra pessoa. Se quero cozinhar melhor, estudar mais ou aprender fazer serviços domésticos é porque eu quero ser autossuficiente e não o suficiente  para alguém. Percebendo como tudo isso acontece há algum tempo, cheguei à conclusão de que minha independência como mulher incomoda muita gente.  

Arte - Negahamburguer


Talvez o que venha da minha família seja só um cuidado excessivo misturado ao medo de que eu (aos 16 anos) conquiste uma liberdade que eles nunca tiveram. Eles se prendem a idealismos que não percebem e só repetem um para o outro, sem questionar o que realmente significam. Mas não, eu não devo ter medo de andar na cidade sozinha, de andar na rua depois das dez da noite, de usar short curto ou de dançar em uma festa, pois “vou ficar mal vista”. Eu queria dar um recado sincero a todos que dizem isso às meninas: Não reflitam suas inseguranças pessoais em nós. 







Para os meninos que já se acham homens o recado é quase o mesmo. Incomoda o fato de eu ser livre? Tanto quanto você? De eu poder sair e ficar com quem e quantos eu quiser? Será que é porque dentre esses todos com quem eu posso ficar eu não ficaria com você? Você é do tipo que escolhe se relacionar com meninas “submissas”, que ainda não enxergaram seu poder. Você não vai querer a “louca” da turma, pois ela fala o que pensa, é inteligente e sabe o que quer. Ela tem controle sobre a vida dela e, principalmente, ela é capaz de ser mil vezes mais interessante do que você. Ela, tão novinha, já tem mais do que você um dia terá se não sair da sua zona de conforto. Em vez de olhar para os outros e procurar a si, olhe para dentro de você e encontre quem você realmente é. 


Eu acredito nas pessoas e na capacidade que elas têm de melhorar, se eu não acreditasse não escreveria esse texto. Não quis aqui ofender ou prejudicar alguém de alguma forma, mas é o meu desabafo compartilhado. Se autoconhecer não é fácil e nem sempre é prazeroso, mas vale a pena. A partir do momento em que nos entendemos passamos e enfrentar nossas contradições e entender melhor as outras pessoas também.

Dado o recado, né gente?









Gabriely é estudante do Ensino Médio e sonha cursar medicina.

Acompanhe nossa página no facebook

3 comentários: