12 de outubro de 2015

Dia das crianças é dia de não esquecer



Desde que eu era criança escuto que o Brasil é o país do futuro e vejo na tv aquela campanha hipócrita que diz que a esperança disso são as crianças. Mas será que realmente acreditamos nisso e lutamos pelo futuro no presente? Será mesmo que nos importamos com todas as crianças de maneira igual? Será que enxergamos crianças apenas como crianças ou desde a infância já separamos meninos e meninas numa educação sexista? Será que entendemos que as privações de direitos, o racismo e o machismo já fazem doer desde cedo?

Mais do que comprar presentes caros para as crianças privilegiadas desse país ou relembrar no facebook o quanto éramos fofinhos, talvez hoje também nos sirva como o dia de não esquecer. De não esquecer que todas as crianças tem o mesmo valor, mas não os mesmos holofotes. 

De não esquecer que a violência de gênero existe também porque criamos meninos para agredir e meninas para se calarem. De não esquecer que somos nós que ensinamos as meninas a fechar as pernas em vez de ensinar os meninos a não estuprar. De não esquecer que fazemos as meninas acreditarem em histórias que não empoderam, e que só reforçam discursos de submissão. Histórias que dizem a elas que o final feliz só pode ser com um homem e que precisamos esperar por um para nos salvar. A inimiga é sempre a bruxa, a madrasta ou a princesa invejosa. Ensinamos que sempre é outra mulher. 

Hoje é dia de não esquecer a representatividade das meninas negras. É dia de não esquecer que é preciso dizer o quanto elas são lindas, e que o black power e o cabelo crespo deveriam ser motivo de orgulho e não de bullying. Não podemos esquecer as estatísticas gritantes sobre a desigualdade de gênero no trabalho doméstico entre meninos e meninas e entre meninas e qualquer homem adulto com quem moram. No Brasil, ainda responsabilizamos mais uma menina de 12 anos pelo cuidado da casa do que seu pai de 30 ou seu irmão mais velho. 


Hoje não podemos esquecer que a "novinha" não é novinha. É criança. Não podemos esquecer que a hipersexualização de seus corpos é nossa culpa. Não é o funk a raiz que legitima a pedofilia, são os homens que consomem pedofilia e fetichizam meninas que deveriam ser responsabilizados por esse crime. Não podemos esquecer que as manchetes precisam mudar e parar de naturalizar os crimes contra crianças. Nesse 12 de outubro não vamos esquecer de olhar com olhos atentos as mudanças de comportamentos e os medos das crianças. Não vamos hesitar em expor abusadores. Não importa se a criança é sua filha ou da vizinha. O perigo vem de dentro de casa, da rua ou até da igreja. 



É dia de não esquecer todas as crianças que já morreram ou sofrem violência apenas por não reproduzirem padrões de gêneros ou heteronormativos de comportamento. É dia de não esquecer a inocência do Gustavo, o menino de oito anos que não quis cortar o cabelo e que gostava de lavar a louça. Por isso, ele foi espancado até a morte pelo pai no ano passado. É dia de não esquecer as meninas que estão sendo vendidas para a prostituição nas Brs e cidades brasileiras. A culpa é nossa, é do Estado e dos homens que compram estupros. Não vamos esquecer que o feminismo também serve para nos lembrar isso tudo. 

Sempre esquecem, mas é preciso relembrar que pai também é total responsável pelos filhos e filhas que gera. Não vamos esquecer das milhões de crianças sem registro, sem pensão, sem carinho, sem referência positiva. É dia de não esquecer que ao abandonar uma mãe, um pai abandona também uma criança.  É dia de lembrar que criança alguma nasce homofóbica e que toda criança tem direito a moradia digna, educação, proteção e amor. Não podemos esquecer que criança precisa de família e família é qualquer pessoa ou mais que possam dar amor e garantia de direitos.

É dia de não esquecer quantos meninos negros a polícia e o Estado já assassinaram. De não esquecer quantas crianças na periferia têm sua infância sequestrada por um Estado fascista e omisso. Em nome da bancada da bala, em nome da redução da maioridade penal, em nome do racismo, em nome da minoria da elite e em nome da cultura do medo. É dia de não esquecer as prioridades do governo e do governador que fecha escolas e abre presídios. Geraldo Alckimin. Não vamos te esquecer. 
É dia de não esquecer que crianças são parte da população, têm direitos e precisam de nós para fazer cumprir. Que o dia das crianças sirva principalmente para nos lembrar das nossas responsabilidades de adultos.

Para o dia de hoje: Conheça MC SOFIA



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