18 de setembro de 2015

Lady Gaga e um clipe sobre estupro na universidade



Lady Gaga lançou seu novo clipe. É sobre estupro. Na universidade. É sobre estupros que ocorrem dentro das universidades e no universo estudantil. É sobre silêncio, poder, medo, omissão, vergonha, opressão e violência. É sobre mulheres. Todas elas, todas nós. É sobre mim e todas as outras. É sobre nossa cultura. É sobre os amigos que percebem e não fazem nada. É sobre a imagem fraterna das repúblicas. É sobre quem não acredita na mulher. É sobre o olhar irônico do policial. É sobre hierarquia. É sobre estatísticas assustadoras que representam só 10% dos números verdadeiros. É sobre aquela minha amiga. É sobre a festa da universidade particular que custa caro e é também sobre as estrelas conquistadas no ranking de melhor universidade pública do país.
É sobre o machismo do professor de direito. É sobre um jornalismo que escolhe palavras de disfarce para noticiar. É sobre o medo de ser perseguida. É sobre ser ameaçada. É sobre ter vergonha. É sobre enfrentar família, igreja, namorado, vizinhos, polícia, tribunal, pesadelos e olhares no corredor. É sobre vítima e não sobre vitimismo. É sobre o facebook e todos os amigos em comum. É sobre ter mil amigos e não ter com quem contar. É sobre quando nos dizem para não provocar. Nos dizem isso quando ainda somos meninas. 




É sobre todas as religiões. É sobre todos os pais que ensinam seus filhos a serem machos. É sobre todos os meninos que aprendem o que foi ensinado. É sobre todas os corpos de mulheres nas revistas, programas de tv, filmes, músicas, novelas e vídeos compartilhados. É sobre proteger os meninos que viram jovens universitários homens de família e senhores de bem. É sobre dar a eles liberdade para estuprar e não sentir culpa. É sobre ensinar as meninas que o mundo nunca será justo e nós devemos nos calar. É sobre o estupro corretivo da lésbica. É sobre o namorado que chama estupro de sexo. É sobre o nerd frustrado que estuprou porque cansou de ouvir não. É sobre o professor premiado de imagem inabalável que jamais faria isso. É sobre aquele cara legal que você nunca imaginou que te estupraria enquanto você está inconsciente. É sobre o cara mais desejado que estuprou porque ouviu o primeiro não. É sobre o estudante de medicina filho de juiz que ganhou um carro quando passou no vestibular. É sobre o juiz também, que deu um carro para o filho que passou em medicina. É sobre o ex namorado que não aceitou o fim. É sobre o barbudinho militante da esquerda que apoia o feminismo. Estuprador. É sobre o reitor que finge que não aconteceu ali, na sua universidade. 

É sobre as meninas que não acreditaram naquela vadia. É sobre todos que disseram que era melhor não falar sobre isso. É sobre a menina que saiu de casa para ser a primeira universitária da família. É sobre a menina negra que incomoda na sala de engenharia. É sobre a menina que foi estudar fora para fugir do pai abusivo. É sobre a estudante de medicina que tem as melhores notas. É sobre a gorda que deveria agradecer por isso. É sobre a evangélica, a feminista, a trans, a popular, a mais bonita e a que não conversa com ninguém. É sobre a professora e que um dia já foi estudante. É sobre o crime mais deslegitimado pela sociedade. É sobre acharem que só é violência se as marcas aparecerem na pele. É sobre o peso de conviver com o silêncio. É sobre o peso de conviver sozinha com o silêncio. É sobre ter que aceitar que o agressor é livre, sorri e não será punido. É sobre ouvir mais histórias e compartilhar a dor em silêncio. É sobre ser mulher. É sobre acharem que se já estamos na universidade, é suficiente. É sobre estarmos na universidade, mas não estarmos seguras na universidade. É sobre o último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que calcula cerca de 143.000 estupros por ano no Brasil e apenas 35% de denúncias. É sobre um problema de segurança, saúde e educação. É sobre o que ensinamos aos meninos e meninas. É sobre nossa omissão. É sobre nossa resistência. É sobre precisar e decidir falar sobre isso. É sobre a importância de ouvirmos outra mulher. É sobre sermos capazes de nos reconhecermos. É sobre nosso maior poder. É sobre nos protegermos e acreditarmos em nós, mulheres.


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