18 de novembro de 2015

Ei Alckmin, aprenda a fazer política com os estudantes!


Foto de Mauricio Camargo, Portal Uol

Não preciso fazer esforço para lembrar de coisas que aprendi na escola. E não, não estou falando das equações matemáticas, as regras chatas da gramática e muito menos das fórmulas químicas que até hoje não entendi. Estou falando de tudo que a escola significa e significou além das notas, presenças e regras. Além de tudo que eu podia compreender enquanto era criança ou adolescente. Além até do que minha imaginação de menina poderia imaginar para que hoje eu estivesse aqui, escrevendo em nome do luto e da luta pelas escolas públicas do estado de são paulo.

Me desculpe professoras Débora e Luciana, mas o meu são paulo aqui vai ser em minúscula mesmo, para representar o que GERALDO ALCKMIN vem fazendo, tornando tudo cada vez menor. Não precisa ser nenhuma especialista em educação para entender que um governo que preza por fechar escolas é um governo que deixa as possibilidades dos jovens assim... minúsculas. E GERALDO ALCKMIN eu coloco todo em maiúscula para simbolizar meu grito. Um grito para não esquecermos o nome do responsável. Um grito para marcar o tamanho do poder de um partido que governa há 20 anos, blindado de responder por suas responsabilidades. Um grito para relembrar todos os jornalões que tentam esconder Geraldo das manchetes.

Demorei a conseguir escrever esse texto porque o sentimento que tenho em relação à forma como o governo do estado trata a educação pública é de esgotamento. É primeiramente de cansaço, e depois de revolta e indignação. Antes de expressar o luto pelo "projeto de reformulação do ensino" (saiba mais aqui), já existe o luto de quem via a professora fiscalizar o corredor e fechar a porta da sala para falar mal do patrão e contar as histórias que não estavam nos livros didáticos. Existe a angústia de perceber que eu já me formei na universidade, mas as minhas professoras precisam falar cada vez mais baixo sobre o patrão. O cansaço é por isso, os anos se passaram e as coisas só pioraram. Antes do luto pelo fechamento das escolas, já existia o luto pelo sucateamento da escola pública. Antes disso já existia o luto pela escola aberta, mas vazia. Vazia não de gente, mas vazia de vontade política de um governo que a enxerga como depósito e não como um lugar transformador. Antes dessa luta, existe o luto por todas as vezes que professoras e professores foram às ruas por direitos e receberam violência e silêncio como resposta do (des) governador GERALDO ALCKMIN. Antes desse texto, existe a minha memória.

Céu Gerbere - PrisLo

Passei quase metade da minha vida sendo estudante da mesma escola. Desde o que chamávamos de primeira série até o terceiro ano de colegial, foram dez anos de transformações e vivências dentro da Escola Estadual Alcides Corrêa. O “Cidão” teve bons e maus momentos administrativos. Passaram por lá diretoras e diretores menos e mais envolvidos com o trabalho, e isso fazia toda diferença na escola. Tive também professores menos e mais envolvidos e isso também fez toda diferença. Alguns a gente nem lembra e outros a gente nunca esquece. 

O Alcides sempre foi uma escola grande, heterogênea e que se localiza em uma zona de contrastes de classes sociais na cidade. Desde pequena eu conseguia enxergar que existiam pessoas mais ricas e mais pobres. Gente de todo tipo, de todo lugar, de todas as cores e de vários jeitos. Gente diferente de mim. Por vezes, conviver com essas diferenças gerava tensões entre os alunos no ambiente escolar. 





Talvez o bichinho do jornalismo já tivesse me mordido desde ali, eu observava muito tudo aquilo e ouvindo meus colegas descobria também um pouco sobre mim e da vida além da minha casa. Apesar de ter tido uma educação defasada em relação aos que estudaram em escolas particulares, eu não trocaria cada detalhe da minha experiência na escola pública por nenhum outro lugar. Foi lá que eu aprendi que o mundo não era uma bolha. 

Por mais que houvesse a estrutura da minha família e as condições dignas para que eu pudesse viver a infância como tem que ser, na escola tudo se resinificava. Foi lá e (ainda bem) que eu entendi que às vezes não bastava ser "obediente". Estar na escola pública me mostrou que nem sempre as coisas são justas e por isso a vida também é feita de luta.

Foto do Portal Uol

Durante todo esse tempo, o governo do PSDB permaneceu. Independente de estarmos em bons ou maus momentos na escola, foram dez anos ouvindo de pessoas que conviviam comigo que eu confiava que aquele “patrão” era ruim. Era ruim porque não valorizava minhas professoras e professores. Era ruim porque lançava bombas quando eles faziam greve por melhorias. Era ruim porque não se importava em aprovar alunos que não sabiam ler na quarta série. Era ruim porque colocava polícia dentro da escola para tratar diferente os que não eram iguais a mim. Era ruim porque cortava verbas e obrigava o corte dos projetos mais legais que envolviam cultura. Era ruim porque fazia avaliações que não avaliavam nada profundamente e reduzia nossas experiências a números. E nossa escola dependia dessas avaliações, o salário dos nossos professores também. Era ruim porque a “classe especial” dos alunos que tinham deficiência mental, não era especial em nada. Era ruim porque instituiu o uso obrigatório de apostilas que não condiziam com nossa realidade e muito menos com a estrutura física que tínhamos na escola. Era ruim porque deprimia meus professores, e não permitia que eles pudessem se sentir humanos ao ter que suportar o peso da responsabilidade de lidar com quarenta vidas em contextos diferentes dentro de uma mesma sala. Era ruim porque acabou com o jornal impresso da escola porque não gostou da nossa ousadia adolescente de fazermos uma charge dizendo que o governador era mesmo um "picolé de chuchu". Eu só tinha 14 anos, e Alckmin já me fazia entender como seria se eu quisesse escrever contra seu governo. 

Não é à toa o mal estar que sinto só de olhar para as expressões cínicas de Geraldo Alckmin ou José Serra, eles sempre foram os monstros invisíveis do qual ouvi falar durante 10 anos. E mais do que isso, os responsáveis diretos por todos os problemas e perdas que foram acontecendo à minha escola ao longo da minha vida lá. A cada vídeo novo ou notícia que a mídia alternativa solta a respeito das ocupações das escolas públicas em São Paulo, o sentimento continua sendo de luto e de luta. De luto porque o governo do estado age de forma ditatorial e usa a polícia como seu braço direito para coagir e agredir estudantes e educadores. Dói ver estudante apanhando por exigir o pouco do que ainda pode ter por dignidade: escola. Pública.

Foto: Portal El País Brasil
Ao mesmo tempo que é revoltante encarar a política de um governo fascista e a cobertura de uma mídia omissa e que criminaliza movimentos sociais, algo resiste e me dá esperança. O coração dos jovens pulsa por revolução. Revolução sim, porque não consigo definir em outra palavra a imagem de meninos e meninas resistindo por educação diante de policiais armados. Resistindo pelo pouco que resta, uma fagulha de esperança em meio a um incêndio criminoso. 

Algumas professoras sempre me diziam que um governo como o nosso não queria formar bem os jovens, pois jovens bem formados são jovens politizados e jovens politizados questionam o governo. O PSDB sucateou a educação nesses vinte anos. A cada novo projeto, corte de verbas e de disciplinas, ele nos desferiu golpes para que as coisas permanecessem como estavam, para que não houvesse jovens questionadores de seu poder.

Mas lá do alto de seu poder blindado e de dentro de seu confortável gabinete, Alckmin não imaginava que a juventude ainda pulsa. A escola, a rua e a vida ensinam além das apostilas. Até o fechamento desse parágrafo são 60 escolas públicas OCUPADAS por estudantes que lutam e resistem contra a velha política do PSDB. A velha política que não representa os jovens que precisam de escola pública. Apesar de jovens, eles estão cansados. Cansados de ouvir na Tv um discurso que pode ser desmentido na internet. Cansados de escutar em tom de sermão que são a geração do futuro e que o Brasil só vai mudar se a educação melhorar. Essas 60 escolas estão ocupadas para te provar, Geraldo, que o futuro é hoje e o acesso a essa tão falada educação tem que ser agora.



                                                  Manifestação artística de alunos - Autoria desconhecida

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