4 de julho de 2016

A redação de uma menina de 13 anos sobre a cultura do estupro



Senti um alívio e uma ponta de esperança quando recebi pelo celular uma foto da redação da estudante Brenda Campos. O exercício foi parte de uma aula sobre cultura do estupro e machismo dada pelo professor Henrique de Oliveira Fonseca em um colégio particular de Ribeirão Preto, São Paulo. Mais do que o provável resultado de uma boa aula de Filosofia, as palavas dessa menina demonstram também a força de uma nova geração de mulheres que está tendo acesso a outras possibilidades de discurso na vida. Talvez seja também parte do impacto do "feminismo de internet", que está ecoando por aí e mostrando para essas meninas tudo que Brenda colocou (a seu modo) nesse texto. Precisamos falar sobre gênero, machismo e opressões nas escolas. E mais do que isso, precisamos ouvir a juventude. É por acreditar muito nisso e não subestimar essa fase tão importante da vida, em que a maioria das meninas já sofreu algum tipo de assédio, que hoje publico (cheia de orgulho) a redação da Brenda, estudante do oitavo ano. 


A cultura não é só do estupro 


Cultura é um costume, algo natural do dia a dia. É nossa tradição aceitar mulheres em segundo plano? Calar nossas garotas? Chamá-las de mentirosas e histéricas? 
“Vivemos em uma sociedade patriarcal que considera que nós mulheres somos ou sujeitos de segunda categoria, ou, que não somos sujeitos e podemos ser utilizadas e descartadas” explica a professora Izabel Solyszko.

Essa tradição vem antes de nós nascermos. Se for um garoto, terá que ser agressivo e se for uma garota, terá que ser delicada. Os nossos gêneros impedem que sejamos felizes. Quantas vezes pedi um vídeo game ao meu pai e ele disse não? Quantas vezes vi meu amigo não poder brincar de casinha comigo? Fomos criados assim.

Fui criada para buscar a delicadeza e perfeição enquanto meu amigo foi obrigado a ser corajoso e forte. Muitos pais criam os filhos para serem pegadores e as filhas para se cuidarem. A filha deles tem que tomar cuidado para não conhecer um homem como o próprio irmão. Enfiaram na nossa cabeça que estamos sempre erradas. Meu cabelo, meu rosto, minha barriga... A mídia sempre irá mostrar as lindas mulheres perfeitas e "burras".

Chegamos à parte do estupro: a busca masculina pela dominação. A VÍTIMA NUNCA É A CULPADA! Gostaria de deixar isso claro. Não importa que horas ela estava na rua e não importa a roupa. A vítima é a vítima. Existe uma frase que resume tudo isso: “A sociedade ensina a não ser estuprada ao invés de não estuprar.” 

Escrito por uma moça que não é bela, recatada e do lar.





Acho que não sou do tipo de "garota normal". Não amo rosa e nem tenho um "crush" na minha escola. Escrevo o que penso e gosto de saber muitas opiniões antes de formar a minha.



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