12 de setembro de 2016

#VotemMulher: Nana Oliveira, de Belo Horizonte



Nana Oliveira é advogada popular há 15 anos, atuante na área criminal e militante antiprisional e antiproibicionista. Começou sua militância ainda durante a faculdade de Direito e a cerca de sete anos milita pela organização política Brigadas Populares. Atualmente Nana é secretária política municipal da organização e junto com Bella Gonçalves é uma das duas brigadistas candidatas a vereadora de Belo Horizonte.

Candidatura

Eu sempre tive resistência a ideia de participarmos (Brigadas Populares) das eleições com candidaturas próprias, pois tinha o receio que ocorresse conosco o que ocorre com muitos partidos de esquerda que acabam não fazendo mais nada além de disputar eleições. Hoje nas Brigadas acreditamos ter capacidade de disputar eleições e tocar as outras ações. Não podemos abrir mão de disputar espaços de poder. Avalio que a esquerda tem dificuldade e um certo pudor em lidar com o poder. Eu acho que poder é poder, não é nem bom nem ruim, a questão é o que você fará dele. 
Me candidatei porque achei que teria que ter uma mulher negra no processo. Não poderia ser qualquer militante, tenho muita convicção de que estou preparada para estar onde estou. Eu não abriria mão desse espaço para termos a candidatura apenas de uma mulher branca, isso seria um retrocesso para a luta das Brigadas Populares e para o feminismo da organização. Ser militante não é fazer o que é mais confortável, é fazer o que é preciso ser feito.



Representatividade de Mulheres Negras

É importante termos homens e mulheres negras nos espaços de poder, mas não basta só isso. É preciso que essas pessoas estejam construindo uma política que rompa com séculos de opressão. Infelizmente muita gente se perde nesse caminho do discurso da representatividade e não considera a questão da classe. É quando isso ocorre que  vemos pessoas negras em espaços de poder reproduzindo vícios e posturas burguesas de pessoas brancas. Para mim  é fundamental considerar de que classe você vem e fala, e para quem serve sua política. Ter negros e negras no poder é pouco, isso é só o começo.


Participação das Mulheres na Política

Acho que a gente ainda é muito boazinha, não dá para ser boazinha, ingênua ou ter misericórdia de pessoas que se colocam como seus inimigos. Enquanto temos misericórdia, eles passam por cima da gente. A política é um espaço muito heteronormativo e que é de difícil construção para nós mulheres. Ainda que hoje estejamos participando desses espaços, ainda somos reféns dele e ainda não temos força suficiente para mudar esse registro. Nesse registro heteronormativo, estamos em desvantagem. Para ser ouvida você tem que gritar e aceitar que suas opiniões fortes sejam taxadas de loucura,  ser rotulada por ser mulher é  muito difícil. Mas acredito que vai ser cada vez mais fácil ocupar e se manter nesses espaços se tivermos coletivos de mulheres se organizando para nos ampararmos e termos respaldo. Não é fácil, mas é preciso estar aqui e nos prepararmos para estarmos aqui.




Campanha

Tenho tentado manter o foco na segurança pública, pois ninguém quer ou consegue debater segurança pública na profundidade que precisa ser debatida. Querem falar de cultura, educação ou juventude, mas nunca em segurança pública. Historicamente a segurança pública é uma pauta atribuída ao estado, então parece que o município não tem relevância nisso e não é verdade. O município tem um papel muito importante nisso, principalmente em relação aos serviços de assistência à população mais carente. Esses serviços estão sucateados, como por exemplo, a educação infantil, que proporciona que a criança esteja na escola para a mãe poder trabalhar,  isso impacta na segurança pública. É uma pauta bem mais complexa do que as outras e estou tentando construir a partir daí.





Desmilitazarizar a Cidade

A segurança pública é militarizada no Brasil, toda a polícia (mesmo a nível civil) é construída numa lógica militar. A lógica militar é de que você tem que ter um inimigo interno para combater. Esse conceito vem desde a Ditadura, naquela época o inimigo era o comunista.  Quando não se tem mais o comunista, o inimigo se torna o traficante. O dia que não tiver mais traficante vão escolher um outro, pois essa lógica precisa de um referencial de inimigo interno para se localizar. Quando falamos em desmilitarização é porque queremos acabar com esse referencial, queremos construir uma segurança pública que parta de outra lógica. Algo que parta da lógica que uma pessoa pode cometer um ato que rompe com os vínculos sociais que construímos, mas que ela não é inimigo porque com o inimigo você pode fazer qualquer coisa: matar, bater, violar e torturar. Na prática, qualquer pessoa que a polícia considere inimigo, que ela acha que pode ser alguém que vai violar algum patrimônio ou conduta, ela se sente no direito de fazer o que quiser com esse indivíduo. Enquanto tivermos uma segurança pública partindo dessa lógica, o sistema prisional vai ser o que é e a polícia vai se sentir confortável em reproduzir essa violência em todas as instâncias da segurança pública.
Precisamos também que o município assuma um papel de maior protagonismo nessa questão da segurança pública, principalmente em relação ao sistema prisional. A Lei de Execução Penal prevê mecanismos de municipalização das execuções de pena, ou seja, que belorizontinos cumpram pena em Belo Horizonte e não em Ribeirão das Neves, por exemplo. É muito desonesto por parte do município empurrar todas as pessoas que cometem crimes para Ribeirão das Neves, e colocar esse ônus em um município que já é extremamente empobrecido. Belo Horizonte tem feito isso com vários outros municípios da região metropolitana, que não aparecem na mídia. Fazem isso para se livrar do que a cidade considera como lixo, mas a cidade precisa assumir seu lugar, precisa cuidar do seus porque é para BH que essas pessoas vão voltar depois da cadeia. . A cidade não se preocupa nem em ter um programa para amparar os regressos do sistema prisional que sejam do município, tudo é responsabilidade do estado. E isso prejudica outras cidades de Minas Gerais porque os recursos ficam concentrados aqui, sendo que existem muitas outras cidades pobres que precisam muito mais do recurso e intervenção do governo do estado do que nós. A política de segurança pública tem sido construída de forma completamente desonesta com toda a população.






Esquerda em Belo Horizonte

Eu não enxergava Belo Horizonte como sendo uma cidade com contornos tão conservadores até a eleição de Márcio Lacerda (PSB). Desde então, BH se tornou uma cidade extremamente incomodada com tudo que é diferente, extremamente preconceituosa. O desafio é trazer de volta aqueles outros tempos em que não nos preocupávamos tanto em regular o outro, sinto que era outro clima. Hoje parece que é uma cidade que não quer que as pessoas ocupem a cidade. A candidatura que propomos pelo A Cidade que queremos BH é pelo desejo que as pessoas usem a cidade e não só a cidade use as pessoas. Além disso, a esquerda precisa diferenciar sua imagem da do  PT, o que  é um desafio grande porque diante do senso comum a esquerda virou sinônimo de PT, o que não é e nem nunca foi verdade. Mas acho que estamos  em um bom momento político para isso. Disputamos com candidaturas ultra conservadoras, fica até mais fácil ser e fazer o contraponto.


Mulheres inspiradoras

Minha mãe e só. Ela é uma mulher negra que criou três filhos sozinha, ficou viúva cedo e meu pai não era uma pessoa fácil. Teve uma vida muito difícil e conseguiu sobreviver a tudo. É uma pessoa alegre e de bem com a vida. Ela nunca perdeu a esperança e a fé, mesmo nos piores momentos que passamos. Ela é muito forte. É do exemplo dela que tiro forças e sei que nos meus piores momentos, eu também vou dar conta do recado.


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