13 de abril de 2015

MC Melody - Quem protege nossas meninas?

Texto: Jéssica Romero e Fiama Souza
Colaboração: Analu Costa e Rafaela Barros


Foto - Internet

Faça um exercício de memória e lembre-se da sua infância. Você se lembra da sua vida aos oito anos? Como era sua rotina? Do que você gostava de brincar? Você se tornou aquilo que queria ser “quando crescer”? Quais eram suas preocupações de criança? 

Se você foi uma criança que teve seus direitos minimamente respeitados e foi cuidada com carinho pelos adultos responsáveis por você, certamente suas lembranças foram boas. Dizem que a infância é a melhor fase da vida. Acho que as pessoas dizem isso porque quando somos crianças ainda não temos total consciência do mundo em que vivemos. Criança sente, pensa, percebe, cria e é capaz de fazer escolhas. Mas uma criança não é responsável por si. Não deve ser. Além dos responsáveis legais por uma criança, todas as pessoas da comunidade em que ela vive e da sociedade civil de uma forma geral também são responsáveis pela garantia de seus direitos básicos. Isso está escrito no Artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA. Mas muito além de um papel, isso deveria estar em nossa consciência.

O caso MC Melody


“MC Melody” é o codinome dado a uma menina de oito anos que é agenciada e produzida como funkeira por seu pai, Thiago Abreu, de 26 anos. A menina tem sido alvo de muitas polêmicas na internet. Sua página no facebook já saiu do ar uma vez por conta de denúncias em relação ao conteúdo inadequado associado a sua imagem. MC Melody aparece frequentemente em poses hipersexualizadas e cantando letras misóginas. Não vamos reproduzir aqui as fotos dela, mas com uma visita rápida em uma de suas páginas (são duas oficiais, uma com cerca de 175 mil curtidas e outra com quase 125 mil) é possível ver diversas montagens e comentários hostilizando a menina. São desde piadas maldosas com o fato dela ser criança, passando por cyberbullying com características de seu corpo (que é infantil e ainda assim colocam sutiã de bojo para parecer adulto) até xingamentos como “puta”, “piranha” e “prostituta”. A maioria esmagadora dos comentários é feita por adultos. 

Foto - Internet

Em meio ao “circo” público e virtual que se arma em torno da menina, existem também comentários de pessoas indignadas com sua superexposição e hipersexualização. No último dia 26 de março, o pai de Melody postou um vídeo dando “explicações” aos que a hostilizam e também aos que acham inadmissível ele expor a filha. Entre tantos posicionamentos problemáticos apontados por ele, vale ressaltar que a indignação contra a situação da “MC” não vem da implicância com o funk.

O funk é um ritmo musical popular e é também um movimento cultural reconhecido que nasceu na periferia e por isso sofreu e sofre muito preconceito. Mas é preciso deixar claro que o problema em questão não é o funk. O problema em sua raiz não é as meninas serem fãs de Anitta e imitarem seus passos de dança, assim como o pai de Melody supõe no vídeo

Print da página da MC

As letras cantadas e postadas são adultas e contém discursos problemáticos que podem influenciar sua formação psicológica e comportamental. É o que diz a psicóloga Analu Costa. “Ela está apenas reproduzindo. Essas letras firmam ainda mais a ideia de rivalidade feminina, da exaltação de padrões de beleza e de supervalorização do homem. Além de reforçar a hipersexualização precoce, floresce nela esta estima por ser desejada, o que a coloca em risco de assédio por parte daqueles que tiveram contato com sua exposição na internet e em shows. Ela está aprendendo que a vontade de uma mulher não é maior que o desejo de um homem, e não só isso, é possível também que ela ainda encare esse assédio como algo lisonjeiro e não ofensivo”, alerta Analu. 


O fato é que interessa a alguém hipersexualizar cada vez mais cedo os corpos e comportamentos das meninas. Interessa a todas as revistas que esperaram ansiosamente Sandy, Bruna Marquesine, Marina Ruy Barbosa e tantas outras completarem 18 anos para as colocarem em suas capas e poderem vendê-las como “mulherões”. Esperaram para venderem seus ensaios sensuais, suas entrevistas com declarações “picantes”, suas fotos na praia e seus flagras com o novo namorado. Interessa também à indústria da pornografia infantil e da pedofilia. Interessa aos que fantasiam com "lolitas" e "colegiais". 




Ainda de acordo com a psicóloga, a hipersexualização pode estar relacionada a um processo de vitimização, ou seja, de aumentar o risco das meninas sofrerem alguns tipos de violência, especialmente a violência sexual. Expor e hipersexualizar uma criança é coloca-la na mira de pedófilos e agressores sexuais. “A menina hipersexualizada cresce com o ideal de que deve servir aos homens não importa como, não tendo a clareza de diferenciar o que é violência e o que é um relacionamento adequado”, afirma Analu. 

As páginas cheias de curtidas e comentários de Melody dizem muito mais sobre nós do que sobre ela, seu pai ou o funk. Ela não tem idade, consciência, corpo, tamanho, responsabilidade e nem jeito de mulher. Ela não pode responder pelo comportamento doentio e omisso da sociedade em que vive. Ela não pode ser responsabilizada pelas atitudes de um pai que lucra com sua exposição e por isso a defende. Ela não pode ter sua imagem hipersexualizada porque existe um mercado que prefere “comprá-la” assim. Ela não pode carregar sozinha dentro de si o peso de todos os xingamentos de adultos anônimos na internet. Ela não pode sofrer as consequências de um Estado omisso que a permite fazer shows em ambientes adultos e sexualizados reproduzindo letras misóginas e a expondo a contatos e ações de pedófilos. 

Print de comentários da página da MC

A situação de Melody é abusiva de várias formas, a começar pelo caráter de comercialização de sua infância. “Foram os pais que observaram um potencial de lucro e passaram a empreender em cima da comercialização da intimidade dela. Uma criança de oito anos deveria estar engajada em atividades relacionadas a este período do desenvolvimento e não sendo explorada e sexualizada por adultos que visam lucro e fama em detrimento de sua infância. Seu pai a expõe a situações constrangedoras na expectativa de poder faturar com a visibilidade que ela alcança, sem ponderar o que é o melhor para ela, e as consequências negativas disso”, diz a psicóloga Analu Costa. 



Melody divide opiniões e causa polêmica porque está exposta. Ela mostra o que a sociedade esconde debaixo do tapete ou tenta disfarçar com a indústria do “entretenimento”: a misoginia, a pedofilia, o machismo e os vários tipos de discursos de ódio. A superexposição de Melody na internet é a fogueira da inquisição moderna. O chocante é que a caça às bruxas está acontecendo cada vez mais cedo. Ela tem oito anos. É uma criança. 


Criança tem Direitos


O Brasil constitui-se como Estado Democrático de Direito, como previsto em seu artigo 1º da Constituição Federal de 1988, ou seja, ele se submete ás suas próprias leis e se responsabiliza a garantir a todas as pessoas o devido respeito aos direitos humanos e garantias fundamentais. No caso de Melody, ela está sob a guarda de seus pais, que, em tese, deveriam protegê-la criando condições que pudessem propiciar segurança física e psicológica para um desenvolvimento intelectual pleno e equilíbrio emocional. Eles deveriam zelar pela saúde física e mental de sua filha. 

Vale lembrar que o país é signatário da Convenção Sobre Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e Ação Imediata para sua Eliminação, promulgada pelo Decreto 3597de 12/09/2000, onde está previsto em seu artigo 1º “Todo Estado-membro que ratificar a presente Convenção deverá adotar medidas imediatas e eficazes que garantam a proibição e a eliminação das piores formas de trabalho infantil em regime de urgência” e em seu artigo 3º alínea B – “Para os fins desta Convenção, a expressão as piores formas de trabalho infantil compreende: (b) utilização, demanda e oferta de criança para fins de prostituição, produção de material pornográfico ou espetáculos pornográficos.”

A Convenção ainda deixa claro em seu artigo 7º alínea (e): “levar em consideração a situação especial de meninas.” Nesse momento a lei reconhece uma especialidade em relação às meninas, se adequando, mais uma vez, ao caso de Melody, por se tratar de alguém do sexo feminino, vulnerável, que se encontra em maior risco de exploração sexual em um país tipicamente patriarcal, ainda com uma cultura machista. É uma questão de gênero. Assim, parece-nos imprescindível e justo cobrar uma atitude do Estado, que não está garantindo uma infância digna a esta criança.

Foto - internet

De acordo com a assistente social Rafaela Barros, a situação de Melody viola vários direitos presentes no ECA. Para ela, é claro que o Estado é omisso no caso da menina e deve intervir proibindo sua superexposição na internet e a realização de shows em casas noturnas. “No ECA estão dispostas medidas de proteção que devem ser aplicadas sempre que os direitos da criança forem ameaçados, ou seja, apenas a ameaça a esses direitos configura uma situação de risco e já é motivo para entrar com uma denúncia ou medida de proteção que evite uma situação mais grave de violação total de direitos. Isso ocorre quando há omissão dos pais ou da sociedade, que é o que vemos nesse caso”, esclarece Rafaela. 

Não podemos relativizar os direitos e normas de proteção de uma criança. O caso de Melody é abusivo e não devemos aplaudir esse espetáculo. Privar a criança de vivenciar as experiências da infância, um período importante de formação e desenvolvimento, é impedi-la de ter uma vida digna, saudável e feliz. É tirar dela a oportunidade de crescer como um ser humano melhor. Estamos sequestrando a infância de Melody. Dela e de tantas outras meninas invisíveis à mídia. Nós estamos vendo a MC, mas será que estamos enxergando a menina? 


**Quer receber instruções de como denunciar o caso pela internet? Entre em contato conosco pela  página do Desvio Livre no facebook ou do blog Hello!

Se preferir, você pode enviar um email para :desviolivre@gmail.com




21 comentários:

  1. Arrasou, gata. Como psicóloga, feminista e blogueira, assino embaixo!

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  2. Meu Deus, ainda não sabia do caso da 'MC Melody", onde o mundo vai parar? Como explora uma criança assim? Eu tenho 13 anos, e tenho uma irmã de 7 anos que não sabe nem o que é beijar direito! E esses comentários absurdos? A sociedade deve sim proteger essa criança e tantas outras que são expostas a mesma situação.
    Parabéns, você explicou toda a situação de forma maravilhosa

    -Arassou Fiama, Beijos

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  3. Parabéns! Belas palavras.
    Coitada dessa criança que tem um "pai" com pensamento pior que o dela. Os valores estão perdidos.

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  4. Excelente texto, quando vi o vídeo fiquei chocada! Como os pais induzem a menina nesse mundo pornográfico ou se ela aprendeu a dançar na tv, seja lá o que for, deveriam cortar isso, mas não! Vivemos no mundo em que ser certo está errado e ser errado está certo.

    www.faseseestacoes.com.br

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  5. amei o texto,a forma que o pai dela a ''obriga'' á fazer isso é patética,nessa idade ela devia apenas brincar,estudar aproveitar a infância sabe porquê tudo acaba uma hora ou outra,e penso que no futuro provavélmente ela vai se arrepender muito disso pq quando se vira adulto não se pode mais brincar fazer as coisas que fazia quando era criança,infelizmente um pai hipócrita desse que leva a filha pra casas noturnas leva ela pra gravar músicas ''pesadas'' realmente não tem conciência da merda que está fazendo...

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  6. Senhor Mc Belinho, faça um favor pra você e para o futuro da sua filha, de vez ficar ganhando dinheiro em cima da sua filha deixa ela ter uma vida normal, pois isso tudo é influência sua, você tem videos cantando hino de Deus e outras cantando senta na minha Piroca? Meu querido você não tem moral nenhuma, e a sua filha é apenas uma criança, o que Você acha que ela vai virar nesse meio que você diz ser inocente, se você quer tanto que ela cante, põe ela em aulas de canto, deixa ela terminar o ensino fundamental e ensino médio dai sim deixa ela decidir em se expor, mais da maneira que você esta fazendo esta denegrindo a imagem da menina, então seja um homem e para de se achar pq tem dinheiro, pq não adianta de nada ter grana, continuar sendo pobre de vocabulário, pobre de sabedoria. Sinto é pena dela que ira crescer achando que este mundo é bom para ela, pois uma criança de 8 anos não tem cabeça pra tanto. Então deixa de ser tão hipócrita pq ninguém aqui é "RECALCADA" pois ninguém ia querer ver um filho da maneira que você expõe a sua!
    #SoAcho

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  7. Meu Deus, a coitada da menina que está nessa situação, e se acontece algo sério? E se ela sofrer abuso sexual? O que o pai dela vai fazer? Acho que nada, afinal é normal uma menina de 8 anos descendo até o chão e sendo tarada por homens

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  8. O que achei mais revoltante nessa história, é a menina estar com uns baitas peitões devido ao enchimentos feito na blusa.
    http://vindodospampas.blogspot.com.br/2015/04/mc-melody-8-anos-peitao-de-enchimento.html

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  9. O que achei mais revoltante nessa história, é a menina estar com uns baitas peitões devido ao enchimentos feito na blusa.
    http://vindodospampas.blogspot.com.br/2015/04/mc-melody-8-anos-peitao-de-enchimento.html

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  10. Vejam as 4 músicas da MC Melody com as Letras...
    Musicas de Mc Melody em: http://www.bandas.mus.br/search/label/Mc%20Melody

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  11. Realmente essa historia da revolta!!!!!!!!

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  12. Você falou tudo e ainda finalizou com a frase 'estamos sequestrando a infância de Melody" muito triste essa situação, eu imagino o que se passa na cabeça de uma menina sexualizada como ela, alimenta ainda mais esse estigma da mulher ser um objeto de prazer do homem.

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  13. Adorei seu texto, inclusive, fiz um video sobre o assunto, bem descontraído com teor de comédia, dêuma olhada quando tiver um tempo
    https://www.youtube.com/watch?v=sqP9cdww5EM&feature=youtu.be

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  14. Divide opiniões não, quem apoia essa pouca vergonha não passa de acéfalo, vai ser palerma assim na casa do Capeta. É por isso que o Brasil não sai da merda, energúmenos ficam apoiando uma atrocidade dessa, vão lavar essa cara, eu não acredito no vídeo que acabei de ver, ela tem 8 anos porra, nunca deveria ter entrado em uma casa notura, muito menos fazer aquelas posições do vídeo, pelo amor de Deus, os pedófilos ficam loucos com isso, sinceramente não sei como essa criança ainda não foi sequestrada por um pervertido...

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  15. Se um pedófilo,ricaço oferecer a esse crápula,pagamento pela virgindade da criança,aposto que ele topa,isso se já não o fez.Os traumas dessa menina ,somente Deus poderá apagar se um dia ela deixar Deus agir.

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  16. Só tem falso moralista nesse blog, meu Deus. Eu só pergunto uma coisa: por que vocês defensores dos bons costumes não se enxeram de ódio também com os vídeos de crianças dançando Beyoncé de maiô no Raul Gil ou então das crianças dançando dança do ventre no Youtube?

    R= porque no fim isso tudo se resume ao preconceito com o funk e machismo. Vão cuidar da vida de vocês e deixem a menina e sua família ganhar os seus 40 mil por mês em paz. Sem mais.

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  17. Desculpa! mas voce é mais uma querendo aparecer nas custa do funk,que ja existe a 15 anos na internet,que não é midia aberta...todo esse movimento de direita é alienado aos idiotas funcionais tais como voce: apenas para dominar e impor limetes na internet...não quer ver seu filho(a) na internet não compre aparelhos celular e nem pc assim ele não vai acessar a internet...suzane richthofen: nunca escutou funk,nunca dançou funk,não usava roupas curtas,estudou nos melhores colegio,menina rica de familia boa...mas assassinou seus pais...marcelinho perseguine: nunca escreveu uma letra de funk,nunca cantou funk e nem foi em uma balada de funk: menino estudioso filhos de policiais: assassinou seus pais,.tia e avó, todos com tiros na cabeça...essa criança de 9 anos mc melody em todos os shows esteve acompanhada com seus pais; mas isso é mais um golpe para dominar a internet quem vem deixando a midia aberta no chinelo e desesperada...

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