18 de maio de 2015

E a sua homofobia, como você vai curar?



Eu sou contra a homofobia. É preciso abrir esse texto dizendo isso, reafirmando e declarando isso. É preciso porque vivemos em tempos de guerra. Tempos transformadores que não nos permitem mais nos escondermos. Ou você está de um lado ou está de outro. Se você se omite diante de homofobia, está do lado de quem agride. Hoje eu estou 100% do lado anti homofobia, mas nem sempre foi assim. Eu já fui homofóbica. Acho que também é preciso dizer isso. Fui homofóbica porque já tive fobia do que não conhecia. Nunca agredi fisicamente, xinguei ou humilhei alguém e nem me afastei de pessoas por causa da orientação sexual delas. Mas isso nunca me livrou da doença homofobia.

Fui criada numa sociedade heteronormativa e se convivi de perto com gays ou lésbicas quando criança, eles e elas estavam “no armário”. Nunca me explicaram nada abertamente sobre diversidade sexual e homofobia na escola, na igreja, em casa ou na rua. Tenho 23 anos e talvez a minha geração tenha sido a última a descobrir sozinha e até por acidente que existia um mundo "fora da nossa casa". Tive amigues homossexuais durante a adolescência, mas nada era falado abertamente. Era uma espécie de contrato silencioso. Eu sabia quais eram as pessoas diferentes de mim e elas sabiam que mesmo sendo diferentes, podiam continuar minhas amigues sem precisar falar sobre isso. 

Mas ainda assim, eu não tinha perdido minha fobia. Eu era homofóbica porque precisei ver dois homens se beijando para perceber que eu achava estranho. Era homofóbica porque já devo ter dado risada de uma piada sobre gays. Era homofóbica porque já julguei um homem ou mulher pelo que estava vestindo ou como estava se comportando. Era homofóbica porque já fiz careta quando alguém falou de sexo entre pessoas do mesmo sexo. Isso pode não parecer homofóbico, mas é. É homofobia porque são atitudes e pensamentos pautados pelo medo do desconhecido. É homofobia porque homofobia é tudo aquilo que nos cega e nos faz achar mais importante a orientação sexual do que o ser humano. É homofobia porque por menor que você considere sua atitude, ela pode causar dor em outra pessoa. Se você se recusa a enxergar isso, está sendo homofóbico. Está escolhendo ignorar a dor alheia. 

Eu descobri que apesar de me achar alguém livre de preconceitos, eu não era totalmente. Eu era livre de preconceitos quando não era preciso encará-los de frente. Quando não era preciso falar e ouvir abertamente sobre o que era diferente. Quando não era preciso escolher um lado. E é aí que mora o perigo da "homofobia enrustida", a linha tênue e a relativização do que é homofobia ou não. É quando achamos que não somos homofóbicos, mas temos vergonha de ir à parada gay e ajudar a levantar a bandeira em praça pública. Quando achamos que não somos homofóbicos, mas não conseguimos advertir aquele amigo que a piada dele não é engraçada. Quando achamos que não somos homofóbicos, mas acreditamos que homossexuais não precisam ter os mesmos direitos que nós. 



É homofobia enquanto sua reação for um impulso do seu medo. Medo do sexo de outra forma, medo do inferno, medo do que você sente, medo do que seu filho pode ser ou medo do que você não conhece. Mas o seu medo mete medo. Quem morre todos os dias por conta da sua homofobia não são héteros homofóbicos... 

A homofobia mata todos os dias. Mata gays, lésbicas, trans e travestis todos os dias. Mata mais do que vemos nos jornais ou registram nas delegacias. Muito mais. Além de matar ela agride através de socos, palavras, olhares, piadas e qualquer tipo de rejeição. Até mesmo o silêncio é capaz de agredir. “Não precisamos falar sobre isso” também é homofobia. Nós precisamos falar sobre isso, sim! Precisamos admitir até onde vai nossa capacidade de empatia e de respeito às outras pessoas. Precisamos olhar para dentro de nós e assumir nossa homofobia. Homofobia tem cura. A cura para homofobia é o contato. 

Ser anti homofobia não é fazer o favor de acolher homossexuais no seu mundo. É entender que somos todos do mesmo mundo e ponto final. Gays ou não, somos humanos. Sua vida não vale mais que as outras e seus direitos não são privilégios, são direitos. Seus e de todas as outras pessoas. A cura para homofobia é o abraço que você escolhe dar ou não. É o apoio que você pode dar ou não. É o filho que você expulsa ou acolhe na sua casa. É a piada que você ri ou não. É o beijo que você escolhe ver ou não. É a adoção que você escolhe festejar ou condenar. É o Deus que você escolhe acreditar. É o ser humano que você escolhe enxergar ou tornar invisível. 

Pense em todos os medos que você já venceu na vida. Agora pense de que modo você os venceu. Medo de altura? Subindo no degrau mais alto, saltando de lá. Medo de escuro? Apagando a luz e permanecendo lá. Medo de água? Aprendendo a nadar. 

E a sua homofobia, como você vai curar? 



PS: Usamos o termo homofobia para falar de violência contra a diversidade sexual. Mas dentro do movimento LGBTT e do movimento feminista, mulheres lésbicas não se sentem contempladas com a palavra, pois a lesbofobia é diferente de homofobia. Clique aqui e entenda.


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