17 de agosto de 2015

Sobre o meu cabelo crespo

Por Mayra Villa Nowa



Tenho poucas lembranças da minha infância, mas algo que nunca esqueci foi a primeira vez que fiz um procedimento químico no cabelo. Uma menina nunca esquece sua primeira química no cabelo e o quanto é sofrido e doloroso. Recordo que eu estava feliz por alisar meu cabelo porque sempre fui alvo de racismo e bullying na escola. E quem não foi e é até hoje só por ter uma característica diferente das outras pessoas?

Eu era criança e chegava em casa chorando e pedindo para minha mãe: “Mãe, eu quero ter cabelo liso, por favor!”. Eu tinha esse desejo porque sofria por causa dos comentários maldosos das pessoas e principalmente por influencia do que eu via na mídia e os comerciais de tv que sempre diziam “seu cabelo duro agora tem solução, pare de sofrer ”. Sem pensar muito nas consequências, minha mãe acabou realizando esse sonho, pois ela nunca soube lidar com meu cabelo crespinho então acho que para ela também foi um alívio.

Quando o grande dia chegou eu estava muito feliz, mas sei que foi o pior erro da minha vida. As horas não passavam, eu chorava, tive queimaduras de primeiro grau e enjoo porque o cheiro do produto era muito forte. Mas assim que terminou tudo aquilo, parecia que tinha valido a pena, pois finalmente tinha o cabelo do sonhos e por alguns instantes esqueci a dor e comecei a me admirar no espelho. Saí do salão com um sorriso de orelha a orelha.

Desde esse dia não parei mais de alisar meu cabelo. De três em três meses eu tinha que aplicar química e foi assim que virei escrava dos alisantes. Quando surgiu a chapinha a escravidão foi dupla. Hoje vejo que o que eu senti nunca foi felicidade e, além disso, a química não deixava meu cabelo crescer e ter vida. 

Um belo dia eu estava navegando na internet vi um vídeo de uma moça crespa que parou de alisar e percebi o quanto o cabelo dela era lindo sendo natural. Pesquisei vários outros vídeos de mulheres que saíram da química e assumiram o cacheado ou crespo.  Podendo ver esses exemplos eu percebi o quanto o meu cabelo crespo é lindo e em dezembro de 2013 parei definitivamente de usar química e comecei a passar pela transição capilar. 

Quando você para com a química e começa a fazer hidratações no cabelo ele vai crescendo e mostrando que tem vida. Em julho de 2014 eu fiz uma mega hidratação, a hidratação “T”, quando resolvi de vez aquele probleminha das pontas lisas. O “T” de tesoura. Eu mesma cortei meu cabelo e foi uma experiência LIBERTADORA!


A grande lição que tiro disso tudo é que finalmente sei que sou NEGRA, e nego esse termo “morena” como muitos me chamam ou até me classificam quando tenho que responder algum questionário sobre raça. Os termos morena, parda ou amarela nem deveriam existir porque ou você é negra ou branca, mesmo que tenha a pele negra mais clara. 

Hoje finalmente me sinto bem comigo mesma e estou amando meu crespinho, mas existem pessoas que se incomodam com o meu cabelo e sou alvo de olhares maldosos cheios de preconceito. Mas agora não me importo porque a escravidão permanece se você abaixa a cabeça para alguém que se acha superior a você, e quando você se dá conta está fazendo as coisas para agradar outras pessoas e nunca será você mesma . Mulher, LIBERTE- SE!



Vídeo do canal Empoderadas, acompanhe as meninas pelo facebook






Mayra Villa Nowa tem 26 anos, é mulher negra, empoderada e feliz com seu cabelo crespo!









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